Rafael de Andrade.
Há muito tempo sai de Lá. Mandei tudo para os ares. Me refugiei aqui . Fiquei alternando. Beber e ler. Às vezes, o café me dava dor de cabeça. Uma aspirina, tudo resolvido. Mas por horas a dor me acompanhava. O importante era estar sozinho. Deixei tudo porque me agoniava. Muita gente me sufoca, ia morrer. Me alimentar. Uma mulher para namorar. Beber e ler.
Há muito tempo sai de Lá. Mandei tudo para os ares. Me refugiei aqui . Fiquei alternando. Beber e ler. Às vezes, o café me dava dor de cabeça. Uma aspirina, tudo resolvido. Mas por horas a dor me acompanhava. O importante era estar sozinho. Deixei tudo porque me agoniava. Muita gente me sufoca, ia morrer. Me alimentar. Uma mulher para namorar. Beber e ler.
Um teto desabou. Matou gente. Nem me importei. Tinha por aqui tudo que precisava. E gente, todo dia morre. O vizinho veio avisar. Nem mandei entrar. Deixei lá no portão com os cachorros. Tava na metade do livro. Não importava que morria gente. Queria mesmo era terminar. Só para outro iniciar. Não é assim a vida, termina um livro, morre um, nasce outro e um novo livro se abre?
Todo dia, algo novo. Lá, todo dia nascia o sol. Todo dia trabalhar. Dormir. Noutro dia nascia o sol. Rotina chata. Por isso sai de Lá. Aqui, todo dia um livro novo. Café para despertar. Literatura.
Fiquei doente. Não tinha ninguém para cuidar. Uma dor do lado direito. Agüentei por mais um tempo. Não reclamei. Por falta de opção, adoro reclamar. Mas sozinho não reclama. Agüentei muito tempo ainda. A dor aumentou, forte demais. Sou homem, mas tenho medo. Morrer com tanto para ler, queria não.
Voltei para Lá. Ninguém sentou do meu lado não. Uns foram de pé, mas não sentaram. Me disseram que tava fedendo. Nem liguei. Queria mesmo era voltar de Lá. Beber e ler.
Ele disse que eu tava doente. Que de tanta bebida, ia morrer. Não sabia que beber matava. Prometi parar. Quando tava voltando, me pediram para ficar. Queria é ficar sozinho, para ler.
Voltei. Abri o livro. Ficava parado por horas. Só mexiam os olhos. Senti dificuldades. Ler de noite não dava mais. Nada tinha para fazer de noite. Gravava de dia para ouvir de noite. Ouvir até dormir. De dia voltava a ler.
Voltei para Lá. Ele me disse que eu tava doente dos olhos. Me avisou para não voltar. Mas queria era ficar sozinho. Não podia ler mais. Mesmo assim continuei. Piorei até que não podia. Fiquei Cego.
Resolvi voltar. Não podia mais beber nem ler. No caminho, me mordeu. Aí sai gritando pela estrada. Só ouvia os barulhos das madeiras quebrando. Acho que me perdi no meio do caminho. Andei até cansar. Sentei num chão. Por lá fiquei. Se for para voltar, ficar sem beber, nem ler, prefiro aqui ficar. Por aqui fui ficando. Ninguém me achou. A solidão, doença nenhuma pode me tirar.
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Novos amores...
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