terça-feira, 30 de setembro de 2008

Rosa Negra


Samuel Lima [1]

O tempo de minha narrativa se instaura no meio da cidade que avançou sobre a floresta Amazônica. Encantos e mistérios, poderosa natureza que vem ensinando o homem, maior e magnânima, a deusa das amazonas me apresenta uma de suas mais belas guerreiras.


Este humilde discípulo, que de bem longe caminhou, veio guiado pelo vento, pela madeira e pelas notas musicais. Este discípulo que boa sorte de amor deixou para trás, resgata sopro de vida ao encontrar-se com tão bela senhorita, tornou-se então o tempo fugaz e logo nos separamos.


Eis que vem, pelas veias da memória, o tempo novamente te traz: Reconstrói se os teus cabelos, cobrindo como a noite, o tímido toque, sua energia, encostamos a cabeça no ombro d’outro, mergulhamos um n’outro, carinhos singelos, mãos sobre cabelos, cheiros, sensos, o todo desaparece, o real se mistura em um devaneio material e sensível.


Um vento tropical bate, antecede uma grande chuva, um estrondo que ecoa por toda a mata. E o som vem ecoando, vem e bate em meu corpo, que estremece, um sorriso toma minha face. Quero para mim aquele vento, aquele som, aquele cheiro, aquela, ela, você.


[1] Músico, 20 anos, toca viola clássica na Orquestra da Tim em Belém do Pará, Violista do Trio da Banda Tenebrys, discipulo do renomado músico russo Sergei Firisanov, membro fundador da orquestra evangélica ASAFE de Porto Velho.


Dedico o texto a minha namorada, Rita Cereja e a todos meus irmãos, especialmente Rafael Ademir, meu 'irmão ogro'.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Recomendações



Rafael Ademir O de Andrade.

Há no mundo [haveria fora do mundo? Outro mundo?]: muitos entes [parentes, doentes, incoerentes? Existência ou suposição?] que pedirão para que tu abaixes a tua cabeça, para que aceites, para que vivas a dizer sim, para que abra as pernas, para que te posiciones de quatro como escravo, meretriz, proletário, funcionário, revolucionário, partidário, aluno [um a-luno], doente, corrupto, jovem, pobre, rico, medíocre, bonito, forte, raso, abastado, bastardo. Seguirás então cantando, caminhando para o abate como gado que é. Uma imposição defendida por todos aqueles conformados, moribundos deitados em suas camas, os que aceitam verdades, os que pregam verdades universais, e, ainda por cima, verdades imbecis.


Olho nos olhos e olho o que vejo no espelho. Para me libertar e não estar sozinho [o homem sozinho, nunca está sozinho, sozinho : é animal ou um deus?] além dos muros, esbravejo estas cousas, que não são verdades, não são imposições, não são discursos: são gritos de um louco, cabelo desgrenhado, barba mal feita, saliva descendo pelo canto da boca, nariz escorrendo a lamúria, unhas grandes e sujas de barro, lama e fezes, roupas borradas, botas rasgadas e uma bolsa cheia de livros amarelados [este mendigo é, um louco? Um profeta? Um deus? Um nada?].


Eu, como seu verdadeiro melhor amigo, te convido às armas! Abandonemos nossas convicções cegas! Eu que vaguei sozinho por desertos, pântanos e cidades procuro a guerra que devo de tratar! Levanto-me não como homem, revoltado, revolucionário, guia, líder, discente, pai, filho, namorado, amigo, mas como um que ama, amante amador, ama-a-dor, [não] humano, [não] prisioneiro, mas um libertino [filho de libertos, destruidor de conceitos, o que extrai o realmente desejado].


Evitemos o velho discurso lastimoso [que procura despertar ‘pena’, ‘dó’] dos covardes. Nunca ‘deixemos como está’ nunca aceitemos ‘as coisas como elas são’, nunca devemos ‘fazer porque todos fazem’, antes que esqueçamos, não somos deste mundo, desta prisão construída para adequar os covardes que não ousam se impor, se debater dentro dos caixões, romper grilhões. Corre o covarde para as suas convicções : corre para a verdade absoluta : para uma única religião verdadeira : para o melhor trabalho : para o acumular dinheiro : para o defender idéias de outros : corre em direção ao parceiro perfeito : o escravo será sempre escravo, não importa o senhor.


Há de se conhecer, olhar para os lados, observar atentamente a condição, as estruturas que criamos para nós mesmos [famílias, escolas, universidades, empregos, bares : e todos os discursos que estas defendem] e que nos prendem, nos formatam. Após conhecer, devemos destruir, esmiuçar em pedacinhos, espalhar, analisar ponto a ponto.


A que nos prendemos então, você pergunta. Devemos nos prender as coisas que amamos rasgar, cortar, devorar : aquelas cousas que devoramos de forma obsessiva : aquelas que amamos [não a ilusão, o encantamento imbecil que alguns apregoam ao amor] : aquela vontade de sempre estar, vontade quase canibal de devorar cada parte do sujeito : ou arte : ou saber desejado com pureza e devassidão.


(continua : este texto é um feto ; ainda haverão outras leituras ; ainda há de nascer!)


"Arrombo portas,

devasso salas

Empurro mágoas pendentes no corredor.

Recolho um favor que, desprezado,jaz no canto, roto e desbotado,

Encosto de lado um desafeto,

Abro alas,

Passo reto."


Texto de Flora Figueiredo

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A sina do Dragão. Parte 1



Por: Rafael Ademir O. de Andrade.

O dragão: réptil, serpente, grande serpente, inimigo, mal, esperteza, engano, avareza, egoísmo, demônio, corrupção, terror, deus, sabedoria, imortal, força, magia, caminhos, rios [subterrâneos, superfície, celestiais], idéia e materialidade: escamas, espinhos, garras, chifres, olhos de serpente, língua bifurcada, dentes, asas, quatro patas, cauda longa e fina [um chicote!], capaz de: voar, carregar um cavalo em vôo, desferir rajadas de fogo ou veneno pela boca, falar, seduzir, roubar, destruir cidades inteiras, perturbar, apossar-se, corromper, caçar, salvar, ensinar, guiar, imortalizar.


O vôo: inicio, pôr do sol, em direção ao sol, sozinho, medo, o vento ainda morno, as montanhas, o desafio, vontades, desejos, se aproxima sempre mais, o sol se vai. Noturno vôo, busca a lua, um diferente, seu caminho de destruição, já não quer mais, busca, pálida amante, voa, urra, lacrimeja, esbraveja, amaldiçoa a condição de ser dragão. Frio, ventos, novas paisagens, modificadas pela falta de luz, mistérios, sombras, curiosidade, novos medos, novas vontades: voar em direção a lua. Incansável, determinado, corajoso, impulsionado [pelo o que?], sonhador, voa sem parar. A lua: circulo, cheia, guerreiros, caça foice, morte, crescente, minguante, nova, traição, luz, arco no céu, marés, amantes, romances, mortes, guerras, caças, desaparece, ao surgir do sol. O dragão, cansa, pragueja, volta, mata, come, dorme, a lua some.


O ataque: Armas naturais: cauda, dentes, garras, chifres, asas, baforada, encontro. Morde, arranha, perfura, chicoteia, derruba, arremessa, queima, cauteriza, envenena, corrói, desorienta, enfraquece, revolta, incapacita. Sem retribuição, certeiro, derradeiro, mortal, animal, emocional, racional, retórica, convencimento, sussurros, gritos, olhares, outras armas do dragão.


A caça: Deseja, escolhe, espreita, apaixona-se [o alimento é paixão], aproxima-se, furtivo, cauteloso, observador, silêncio, nervosismo, taquicardia, escorre o suor, esfrega a língua nos dentes, sorri docemente, levemente, fervorosamente [é um ato de fé, o caçar], urra, voa, corre, avança, empurra, morde, rasga, balança, arremessa, eleva, abaixa, luta, mata, dilacera, morde novamente, mastiga, engole, arrota, processa, defeca, sente fome.


O encanto: Sina de dragão é se encantar por princesa
. Sina de dragão é sempre ter que caçar, sempre ter que matar, sempre ter que devorar, sempre ter que raptar princesas. A princesa: pureza, amor, carinho, família, filhos, filha do rei, o marido herda o reino, título de cortesia, libertinagem, uma prisioneira [que é liberta pelo raptor : prisioneira novamente : quando o dragão morre, torna-se cativa novamente, pelo rei-pai ou pelo príncipe-assassino : daí, tornar-se-á dragão também : pelo medo da morte, pela traição.] devassidão, sujeira, traição, atrai o dragão com suas inúmeras faces.

O rapto: Dragão, castelo, noite, dia, tarde, guardas, coadjuvantes, [facilmente] mortos, desespero, medo, rainha, se veste, deixa o amante, corre para o rei, que está defecando, acorda o cavaleiro, que é o amante [da rainha? Da princesa ou do rei?], quarto, princesa, desnuda, masturbando-se [toca, geme, abre, contorce, sussurra nome de poder, deseja o pai, no cavaleiro, molha os dedos, re-lembra o membro, a história de uma pornografia], o dragão, derruba, entra, rapta, voa, flechas, ininterruptas, sem efeito, couro grosso, armadura escamosa, uma distância, foge, covil.


O covil: Caverna, montanha, casa ou mansão? Ossos no chão: humanos, de cervos, de elefantes, de macacos [ou crianças], de cobras, de cavalos, de outros dragões. Ovos: quebrados, sem conteúdo, devorados na ultima chuva, privados de uma existência, prova de amor, retirados da dor, a dor que ele sente, quer ser ovo, quer ser destruído, não quer. O casal: chega no covil: ela: grito, choro, pontapés, tapas, tenta correr, morde, esbofeteia, nua, ferida, confusa, humilhada, perdida. Ele: o dragão: feliz, triste, vivo, faminto, provocado [pelas belas formas], convocado, instigado, tarado, sonolento.


O resgate: O rei: O amante: Os soldados: Infantaria, Arqueiros e montados, espadas, machados, maças, manguais, arcos, bestas, flechas, dardos, escudos, elmos, botas, celas. Avante! Como uma boa ordem já dada, protagonistas, mortos, herói violado, coadjuvantes bastardos, todos marcham. O covil, o batalhão, o dragão, a princesa, o rei, o cavaleiro-amante, encontro fatídico, batalha, armas quebradas, escamas arrancadas, rei morto, cavaleiro morto, coadjuvantes mortos, dragão ferido, princesa ferida.


O continuar: Dragão e Princesa: feridas, língua, lágrimas, cura, gratidão, desejo, mãos, membro, língua, boca, ejaculação. Pernas, lábios, penetração, movimento, beijo, sussurros, gemidos, palavrões, urros, gozo. Tempo: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos : gravidez, filho, um meio-dragão-meio-homem [totalmente fera].





sábado, 13 de setembro de 2008

As maiores baratas da humanidade.



Por: Rafael Ademir

Perduram por aqui alguns indivíduos que são alvos de grande admiração de minha parte. Como conseguem, no passar da segunda década de vida, ainda decifra-la com o mesmo pensar de uma criança de dez anos? Tudo, ou quase tudo, é visto como uma grande brincadeira, um eterno sonho infantil em um grande parque de diversões.


Suas brincadeiras demonstram a grande ignorância em que estão imersos [submersos, subalternos, subdesenvolvidos e outros “subs”]. Ignoram a milenar construção religiosa de um cristianismo, de um espiritualismo, brincam com as mágoas de outros indivíduos [e para se acharem superiores, criam algumas], a morte, a dor, a agonia são enredos de um desenho animado que passa longe de suas vidas, tudo é alegria, são prostitutas alegres, coitadas em sua ignorância. Tudo é muito simples para os simplórios, medíocres, medianos, medi-ânus.


São exemplos de últimos homens, escravos por excelência, livres por ilusão, exemplos do que não devemos ser, são heróis de uma juventude ainda mais imbecilizada por enlatados internacionais e nacionais. Enganadores, dissimulados, mentem para todos ao seu redor [eu te amo, eternamente, francamente, veementemente, vê e mente e mente] e para si mesmos [eu sou alguém, eu existo, eu penso, eu peso, eu faço a diferença, eu não sou imbecil] e assim passam suas vidas em uma ilusão, a vida é uma ilusão regada a álcool, sexo barato [e ruim, vazio, esdrúxulo, inócuo, infecundo, imbecil] e drogas [desenhos, joguinhos, seres acéfalos de vagina, falsas amizades e uma falsa construção acadêmica].


Já leram todos os livros, mas não falam de nenhum, já fizeram estória, mas não falam de nenhuma, já sentiram dores, mas não respeitam a do próximo [sentiram então, de verdade?], já marcharam para uma guerra e voltaram sem nenhum arranhão. Como pode, um ser que não tem sensibilidade nenhuma do mundo a sua volta, conceber outro mundo?
Inutilidade, imbecilidade, descrença [em si, primeiramente], palhaços, prisioneiros, futilidade, acéfalos, ratos escaldados, vergonha [somos da mesma raça], perseguição, sempre falhos, enferrujados, em desuso, enforcados, amarrados, produzidos em massa [fábrica dos alienados], sanguessugas, sujas, violadas.


Estes são vocês, que não existem como homens. São algo entre os vermes e as baratas, medrosos, correndo dos fantasmas.