quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Para você Mein Herz, Mein Muse

Aquela! Ela!

Dormi pouco, acordei de um sonho com os mortos
As lápides frias, as baratas, os ratos, ossos e roupas velhas
Olhos estranhos e amigos não me reconhecem mais
Eu não sou mais a jovem criança pré-adolescente e feliz

Mas, apesar de tudo, com você me sinto vivo novamente
Sinto tuas batidas, me alimento de teu sangue, sou teu sangue
Teu corpo se treme quando estou dentro de ti, e apesar de morto
Eu sempre irei te amar, sempre irei lhe guardar aqui

Em meio as tuas pernas jorro novas vontades, novas vidas
Nossa ligação eterna, nosso sexo dos anjos e fantasmas, nossas loucuras
Distribuo e tomo para mim todas as dores, tuas e dos que vem de nós
Você me faz sentir o êxtase dos loucos filósofos e quero sempre mais

Não sou mais a presa, não sou mais o fugitivo
Sou cavaleiro disposto a morrer, matar mil dragões
Minha princesa, rainha, mãe : uma medrosa : uma corajosa
E por mais que mintam : Eu sempre irei te guardar aqui.

E lá vem, tu minha libertadora, quebre minhas correntes
Pálida amante, prenda-me em teus desejos, realize o meu
Olhe para estas lágrimas, são tuas! Leve-me daqui
Para onde a dor desapareça e seremos apenas nós dois...

Quero devorar-te! Arrancar pedaço por pedaço de teu corpo
Conquistar aquele pedaço de terra, aquele pedaço, aquele!
Só para te possuir...
Rafael de Andrade.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Rosa Negra


Samuel Lima [1]

O tempo de minha narrativa se instaura no meio da cidade que avançou sobre a floresta Amazônica. Encantos e mistérios, poderosa natureza que vem ensinando o homem, maior e magnânima, a deusa das amazonas me apresenta uma de suas mais belas guerreiras.


Este humilde discípulo, que de bem longe caminhou, veio guiado pelo vento, pela madeira e pelas notas musicais. Este discípulo que boa sorte de amor deixou para trás, resgata sopro de vida ao encontrar-se com tão bela senhorita, tornou-se então o tempo fugaz e logo nos separamos.


Eis que vem, pelas veias da memória, o tempo novamente te traz: Reconstrói se os teus cabelos, cobrindo como a noite, o tímido toque, sua energia, encostamos a cabeça no ombro d’outro, mergulhamos um n’outro, carinhos singelos, mãos sobre cabelos, cheiros, sensos, o todo desaparece, o real se mistura em um devaneio material e sensível.


Um vento tropical bate, antecede uma grande chuva, um estrondo que ecoa por toda a mata. E o som vem ecoando, vem e bate em meu corpo, que estremece, um sorriso toma minha face. Quero para mim aquele vento, aquele som, aquele cheiro, aquela, ela, você.


[1] Músico, 20 anos, toca viola clássica na Orquestra da Tim em Belém do Pará, Violista do Trio da Banda Tenebrys, discipulo do renomado músico russo Sergei Firisanov, membro fundador da orquestra evangélica ASAFE de Porto Velho.


Dedico o texto a minha namorada, Rita Cereja e a todos meus irmãos, especialmente Rafael Ademir, meu 'irmão ogro'.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Recomendações



Rafael Ademir O de Andrade.

Há no mundo [haveria fora do mundo? Outro mundo?]: muitos entes [parentes, doentes, incoerentes? Existência ou suposição?] que pedirão para que tu abaixes a tua cabeça, para que aceites, para que vivas a dizer sim, para que abra as pernas, para que te posiciones de quatro como escravo, meretriz, proletário, funcionário, revolucionário, partidário, aluno [um a-luno], doente, corrupto, jovem, pobre, rico, medíocre, bonito, forte, raso, abastado, bastardo. Seguirás então cantando, caminhando para o abate como gado que é. Uma imposição defendida por todos aqueles conformados, moribundos deitados em suas camas, os que aceitam verdades, os que pregam verdades universais, e, ainda por cima, verdades imbecis.


Olho nos olhos e olho o que vejo no espelho. Para me libertar e não estar sozinho [o homem sozinho, nunca está sozinho, sozinho : é animal ou um deus?] além dos muros, esbravejo estas cousas, que não são verdades, não são imposições, não são discursos: são gritos de um louco, cabelo desgrenhado, barba mal feita, saliva descendo pelo canto da boca, nariz escorrendo a lamúria, unhas grandes e sujas de barro, lama e fezes, roupas borradas, botas rasgadas e uma bolsa cheia de livros amarelados [este mendigo é, um louco? Um profeta? Um deus? Um nada?].


Eu, como seu verdadeiro melhor amigo, te convido às armas! Abandonemos nossas convicções cegas! Eu que vaguei sozinho por desertos, pântanos e cidades procuro a guerra que devo de tratar! Levanto-me não como homem, revoltado, revolucionário, guia, líder, discente, pai, filho, namorado, amigo, mas como um que ama, amante amador, ama-a-dor, [não] humano, [não] prisioneiro, mas um libertino [filho de libertos, destruidor de conceitos, o que extrai o realmente desejado].


Evitemos o velho discurso lastimoso [que procura despertar ‘pena’, ‘dó’] dos covardes. Nunca ‘deixemos como está’ nunca aceitemos ‘as coisas como elas são’, nunca devemos ‘fazer porque todos fazem’, antes que esqueçamos, não somos deste mundo, desta prisão construída para adequar os covardes que não ousam se impor, se debater dentro dos caixões, romper grilhões. Corre o covarde para as suas convicções : corre para a verdade absoluta : para uma única religião verdadeira : para o melhor trabalho : para o acumular dinheiro : para o defender idéias de outros : corre em direção ao parceiro perfeito : o escravo será sempre escravo, não importa o senhor.


Há de se conhecer, olhar para os lados, observar atentamente a condição, as estruturas que criamos para nós mesmos [famílias, escolas, universidades, empregos, bares : e todos os discursos que estas defendem] e que nos prendem, nos formatam. Após conhecer, devemos destruir, esmiuçar em pedacinhos, espalhar, analisar ponto a ponto.


A que nos prendemos então, você pergunta. Devemos nos prender as coisas que amamos rasgar, cortar, devorar : aquelas cousas que devoramos de forma obsessiva : aquelas que amamos [não a ilusão, o encantamento imbecil que alguns apregoam ao amor] : aquela vontade de sempre estar, vontade quase canibal de devorar cada parte do sujeito : ou arte : ou saber desejado com pureza e devassidão.


(continua : este texto é um feto ; ainda haverão outras leituras ; ainda há de nascer!)


"Arrombo portas,

devasso salas

Empurro mágoas pendentes no corredor.

Recolho um favor que, desprezado,jaz no canto, roto e desbotado,

Encosto de lado um desafeto,

Abro alas,

Passo reto."


Texto de Flora Figueiredo

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A sina do Dragão. Parte 1



Por: Rafael Ademir O. de Andrade.

O dragão: réptil, serpente, grande serpente, inimigo, mal, esperteza, engano, avareza, egoísmo, demônio, corrupção, terror, deus, sabedoria, imortal, força, magia, caminhos, rios [subterrâneos, superfície, celestiais], idéia e materialidade: escamas, espinhos, garras, chifres, olhos de serpente, língua bifurcada, dentes, asas, quatro patas, cauda longa e fina [um chicote!], capaz de: voar, carregar um cavalo em vôo, desferir rajadas de fogo ou veneno pela boca, falar, seduzir, roubar, destruir cidades inteiras, perturbar, apossar-se, corromper, caçar, salvar, ensinar, guiar, imortalizar.


O vôo: inicio, pôr do sol, em direção ao sol, sozinho, medo, o vento ainda morno, as montanhas, o desafio, vontades, desejos, se aproxima sempre mais, o sol se vai. Noturno vôo, busca a lua, um diferente, seu caminho de destruição, já não quer mais, busca, pálida amante, voa, urra, lacrimeja, esbraveja, amaldiçoa a condição de ser dragão. Frio, ventos, novas paisagens, modificadas pela falta de luz, mistérios, sombras, curiosidade, novos medos, novas vontades: voar em direção a lua. Incansável, determinado, corajoso, impulsionado [pelo o que?], sonhador, voa sem parar. A lua: circulo, cheia, guerreiros, caça foice, morte, crescente, minguante, nova, traição, luz, arco no céu, marés, amantes, romances, mortes, guerras, caças, desaparece, ao surgir do sol. O dragão, cansa, pragueja, volta, mata, come, dorme, a lua some.


O ataque: Armas naturais: cauda, dentes, garras, chifres, asas, baforada, encontro. Morde, arranha, perfura, chicoteia, derruba, arremessa, queima, cauteriza, envenena, corrói, desorienta, enfraquece, revolta, incapacita. Sem retribuição, certeiro, derradeiro, mortal, animal, emocional, racional, retórica, convencimento, sussurros, gritos, olhares, outras armas do dragão.


A caça: Deseja, escolhe, espreita, apaixona-se [o alimento é paixão], aproxima-se, furtivo, cauteloso, observador, silêncio, nervosismo, taquicardia, escorre o suor, esfrega a língua nos dentes, sorri docemente, levemente, fervorosamente [é um ato de fé, o caçar], urra, voa, corre, avança, empurra, morde, rasga, balança, arremessa, eleva, abaixa, luta, mata, dilacera, morde novamente, mastiga, engole, arrota, processa, defeca, sente fome.


O encanto: Sina de dragão é se encantar por princesa
. Sina de dragão é sempre ter que caçar, sempre ter que matar, sempre ter que devorar, sempre ter que raptar princesas. A princesa: pureza, amor, carinho, família, filhos, filha do rei, o marido herda o reino, título de cortesia, libertinagem, uma prisioneira [que é liberta pelo raptor : prisioneira novamente : quando o dragão morre, torna-se cativa novamente, pelo rei-pai ou pelo príncipe-assassino : daí, tornar-se-á dragão também : pelo medo da morte, pela traição.] devassidão, sujeira, traição, atrai o dragão com suas inúmeras faces.

O rapto: Dragão, castelo, noite, dia, tarde, guardas, coadjuvantes, [facilmente] mortos, desespero, medo, rainha, se veste, deixa o amante, corre para o rei, que está defecando, acorda o cavaleiro, que é o amante [da rainha? Da princesa ou do rei?], quarto, princesa, desnuda, masturbando-se [toca, geme, abre, contorce, sussurra nome de poder, deseja o pai, no cavaleiro, molha os dedos, re-lembra o membro, a história de uma pornografia], o dragão, derruba, entra, rapta, voa, flechas, ininterruptas, sem efeito, couro grosso, armadura escamosa, uma distância, foge, covil.


O covil: Caverna, montanha, casa ou mansão? Ossos no chão: humanos, de cervos, de elefantes, de macacos [ou crianças], de cobras, de cavalos, de outros dragões. Ovos: quebrados, sem conteúdo, devorados na ultima chuva, privados de uma existência, prova de amor, retirados da dor, a dor que ele sente, quer ser ovo, quer ser destruído, não quer. O casal: chega no covil: ela: grito, choro, pontapés, tapas, tenta correr, morde, esbofeteia, nua, ferida, confusa, humilhada, perdida. Ele: o dragão: feliz, triste, vivo, faminto, provocado [pelas belas formas], convocado, instigado, tarado, sonolento.


O resgate: O rei: O amante: Os soldados: Infantaria, Arqueiros e montados, espadas, machados, maças, manguais, arcos, bestas, flechas, dardos, escudos, elmos, botas, celas. Avante! Como uma boa ordem já dada, protagonistas, mortos, herói violado, coadjuvantes bastardos, todos marcham. O covil, o batalhão, o dragão, a princesa, o rei, o cavaleiro-amante, encontro fatídico, batalha, armas quebradas, escamas arrancadas, rei morto, cavaleiro morto, coadjuvantes mortos, dragão ferido, princesa ferida.


O continuar: Dragão e Princesa: feridas, língua, lágrimas, cura, gratidão, desejo, mãos, membro, língua, boca, ejaculação. Pernas, lábios, penetração, movimento, beijo, sussurros, gemidos, palavrões, urros, gozo. Tempo: segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos : gravidez, filho, um meio-dragão-meio-homem [totalmente fera].





sábado, 13 de setembro de 2008

As maiores baratas da humanidade.



Por: Rafael Ademir

Perduram por aqui alguns indivíduos que são alvos de grande admiração de minha parte. Como conseguem, no passar da segunda década de vida, ainda decifra-la com o mesmo pensar de uma criança de dez anos? Tudo, ou quase tudo, é visto como uma grande brincadeira, um eterno sonho infantil em um grande parque de diversões.


Suas brincadeiras demonstram a grande ignorância em que estão imersos [submersos, subalternos, subdesenvolvidos e outros “subs”]. Ignoram a milenar construção religiosa de um cristianismo, de um espiritualismo, brincam com as mágoas de outros indivíduos [e para se acharem superiores, criam algumas], a morte, a dor, a agonia são enredos de um desenho animado que passa longe de suas vidas, tudo é alegria, são prostitutas alegres, coitadas em sua ignorância. Tudo é muito simples para os simplórios, medíocres, medianos, medi-ânus.


São exemplos de últimos homens, escravos por excelência, livres por ilusão, exemplos do que não devemos ser, são heróis de uma juventude ainda mais imbecilizada por enlatados internacionais e nacionais. Enganadores, dissimulados, mentem para todos ao seu redor [eu te amo, eternamente, francamente, veementemente, vê e mente e mente] e para si mesmos [eu sou alguém, eu existo, eu penso, eu peso, eu faço a diferença, eu não sou imbecil] e assim passam suas vidas em uma ilusão, a vida é uma ilusão regada a álcool, sexo barato [e ruim, vazio, esdrúxulo, inócuo, infecundo, imbecil] e drogas [desenhos, joguinhos, seres acéfalos de vagina, falsas amizades e uma falsa construção acadêmica].


Já leram todos os livros, mas não falam de nenhum, já fizeram estória, mas não falam de nenhuma, já sentiram dores, mas não respeitam a do próximo [sentiram então, de verdade?], já marcharam para uma guerra e voltaram sem nenhum arranhão. Como pode, um ser que não tem sensibilidade nenhuma do mundo a sua volta, conceber outro mundo?
Inutilidade, imbecilidade, descrença [em si, primeiramente], palhaços, prisioneiros, futilidade, acéfalos, ratos escaldados, vergonha [somos da mesma raça], perseguição, sempre falhos, enferrujados, em desuso, enforcados, amarrados, produzidos em massa [fábrica dos alienados], sanguessugas, sujas, violadas.


Estes são vocês, que não existem como homens. São algo entre os vermes e as baratas, medrosos, correndo dos fantasmas.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Os leprosos e os retardados



Por: Rafael Ademir Oliveira de Andrade.

Que se adiantem os leprosos e retardados! Avancem sobre o grande monstro de metal! Voltem para seus currais de alvenaria, que vençam os leprosos e retardados! Somos compostos por estes tipos de seres, e devo mostrar o porque. Digo, aos que conhecem ou estão vivendo tais dificuldades como a deficiência mental ou a hanseníase, que seus males são temporários e não falo aqui de vocês, falo dos que possuem deficiências no espírito, ou razão, e por isso seu corpo sofre também, são as bestas da modernidade, artefatos modernos, objetos, coisas, gado, não faltam “qualidades” para adjetiva-los. Aliás estas palavras servem de forma pejorativa para tratar pessoas com tais deficiência ou patologia, o que condeno, as pessoas que as possuem são portadores de deficiência mental e hansenianos, que de deficientes não possuem nada.


Leprosos, pois seu corpo sofre, é despedaçado. “O corpo é a morada da alma” se apegam a esta frase com todo fervor e põem se a adorar seu novo deus, seu próprio corpo. O adoram em templos erroneamente chamados academias, fazem dietas mirabolantes, cirurgias “deformáticas” e tudo mais para final de semana jogar nos braços (patas?) do primeiro imbecil que é mais devoto do seu corpo que a si mesmo, e realizam um ritual que se chama sexo, que fazem olhando para si mesmo, pois se amam e somente se amam. Devem amar-se mesmo, pois de verdade, ninguém mais o amará -O quão belo é a moça que cuida de si física e mentalmente e qual ridículo se torna àquela que tem o corpo deformado pela ausência de intelectualidade- como já dizia Nieztche: “Não falta um pouco de prazer para o dia e um pouco de prazer para a noite, mas respeita-se a saúde.”. Devemos sim, cuidar de nosso bendito corpo, mas não se esquecendo que ele é morada da alma e não dono da mesma, esta só deve seguir a ciência do Senhor, a mais excelsa, a que nos faz realmente utilizar o livre arbítrio.


Retardados, pois tem suas habilidades racionais limitadas. Limitada por si mesmos e pelo processo de endoculturação, um processo social. A vida passa, como diz um amigo, estes seres, ficam passando na escola, passam na universidade, passam nos trabalhos, passam seus alunos, pedem para se aposentarem e quando vêem, a vida passou, passando e passando, se foi. Então adiciono a estas considerações que, passam seus finais de semana em festas, seus dias santos em igrejas sem ao menos buscar a reflexão sobre suas ações. Está por simplesmente estar, são terrestres perdidos em meio à confusão social e se prendem a instituições perdidas ou sem sentido e assim fazem sua vida sem sentido. São os últimos homens, animais medrosos, que se escondem nestas gaiolas por temerem o mundo exterior. O mundo é uma guerra e o homem cria “fortes” guarnecidos de ignorância para se proteger dele, cria e recria sensações perdidas em sua infância, é um eterno saudosista. Mas o pobre Zé, perdeu sua infância com um tumor no cérebro, que o matou, ele é o mais ávido dos críticos a esta sensação, por não a ter. O homem deve romper com estes fortes e explorar toda a verdade que se encontra fora destes, com a ávida sensação de não encontrar, pode encontrar tudo. Enfim, os loucos estão amarrados em suas salas e os retardados estão a comandar o mundo.


Um dia me pediram para parar de ler filosofia, então respondi: Se parasse de ler filosofia, perderia um terço de beleza minha vida, sendo que os outros dois terços se encontram na verdadeira amizade familiar e o outro terço em descobrir mulheres belas como você.


“Algum veneno uma vez por outra, é coisa que proporciona agradáveis sonhos. E muitos venenos no fim para morrer agradavelmente” Nieztche.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Uma verdade


Por: Rafael Ademir Oliveira de Andrade.


Ontem eu não estava com meus amigos em uma festa, nem eles, nem mais ninguém. Estamos todos amarrados em uma cadeira, com os olhos vendados, em uma grande sala branca, com lâmpadas que emitem luzes que nos cegariam caso pudéssemos visualiza-las. Passamos o tempo todo lá, tendo sonhos controlados, sonhando que estamos juntos em uma festa, em uma sala de aula, em uma sala de trabalho, tudo não passa de uma ilusão. De tempos em tempos, é nos dada uma opção, única fala que concebemos fora do mundo das ilusões, é nos dada à oportunidade de nos matarmos com uma arma de fogo, o suicídio é a única solução para esta situação. A verdade é que muitos negam este suicídio, e continuam a viver no mundo de ilusões, doces e amargos sonhos, que não podem controlar, mas se pode pensar que vive, é um doce sonho de dor. Outra verdade é que nosso corpo, mesmo sem envelhecer, desiste de continuar assim, simplesmente morre, deixa de respirar.


Existe uma maneira de se livrar em vida desta situação, entretanto, todos que se prontificam a trilhar este caminho sofrem terríveis rituais de tortura por parte dos controladores. O primeiro é um prego enferrujado cravado no coração, a dor é enorme, não é mais possível amar os que estão presos, só resta o sexo, a violação mental de uma vagina, a sujeira negra do mar vermelho, a solidão a dois, é possível encontrar um parceiro que sofra de igual dor, aí, poderão trilhar juntos este caminho, sabendo que é uma ilusão, mas que juntos poderão encontrar a verdade, a o amor, o amor. A segunda tortura é arrancar as unhas dos pés e das mãos, para que andar, tocar as coisas e muitas outras coisas seja uma verdadeira dor, estar no mundo dos sonhos é uma dor, nesta hora todos pedem a arma. A terceira tortura consiste em socar os olhos dos torturados, para que ler e olhar as coisas belas da vida, também lhe causem dor, ler, seu principal instrumento de libertação, se torna seu principal algoz e por fim, o quarto ritual, onde é dada uma centena de leves marretadas na cabeça do pretenso liberto, que sofre de dores de cabeça finitas e perde a capacidade de se amar, restando-lhe somente amar ao próximo para se manter sonhando.


Vale mesmo a pena fazer isto? Morrer em sonho, morrer em vida? Sim. Devo falar o porque. O caminho para a libertação é um, igual para todos. Mostramos nossa vontade de se libertar e agüentamos sozinhos os sofrimentos (é deveras raro achar outro que tente trilhar junto conosco, mas é recompensaste ter alguém que sofra dores semelhantes ao nosso lado) e usamos de um artifício que pode deixar registrado até onde chegamos em nossa caminhada, para que os próximos possam seguir de onde paramos. O registro se chama estudo, o caminho se chama filosofia, aonde queremos chegar é na ciência.


Um dia, pretenso sonhador eu sou, as pessoas se libertarão e assassinarão com grande ódio os controladores desta grande sala. Mas o mesmo caminho que me faz chegar até aqui me faz enveredar por lugares desconhecidos, longe de uma verdade absoluta. Talvez, pensar que estamos em uma ilusão me aparente ser melhor do que acreditar que isto é a verdade, uma verdade imbecil é inútil, por isto, crio outra verdade, esta sim, mesmo que cause agonia a vós, é para mim uma chance. O lugar onde queremos chegar, é como um deserto, não sabemos onde está a areia que te sugará, provavelmente no meio das pernas de outrem. E para não dizer que sou totalmente descrente das coisas, afirmo que existe a irmandade, um amor que nos é permitido escolher, dentro da família, temos irmãos e temos parentes, ser irmão, é ser mais, e não digo isto apenas por ligação sanguínea.


Não existe ser mais burro do que o que rende sua vida a acumular capital. É o pior dos animais, é um verdadeiro representante da humanidade.


"O inferno é o outro" Sartre

terça-feira, 29 de abril de 2008

Penso e logo peso.


Por: Rafael Ademir Oliveira de Andrade


Hoje foi um dia totalmente diferente dos outros, cheio de significados e no final mais um dia de muitos. Entretanto, como disse, foi diferente, ajudei meus amigos em um trabalho físico e mal eles sabiam que me trabalhavam espiritualmente também, no final, recebi agradecimentos de ambos, mas na verdade, eu que devia agradecer. O trabalho não tem necessidade de ser dito aqui, não importa, apenas fiquei cansado, mas hoje em dia, me canso com mais coisas que o normal. Sou grato a Deus por me dar saúde para poder trabalhar pelos meus amigos, bem grato.

Vi, durante este trabalho, duas crianças brincando, um garoto e uma garota, e consegui observar a conversa. Ela falava em casamento e em quando eles teriam um filho, somente um, ressaltava, e o menino, logo desmentia, pois não queria se casar nunca, nunca! Ri bastante da situação e me lembrei de outras que passei. Pensei sobre casamento, ter filhos, imaginei-me no futuro, com o Gabriel grande, tendo um pequeno ciúme de suas irmãs, suas? sim, suas irmãs gêmeas. Lembrei-me dos amigos que dizem que nunca terão filhos nem se casarão, e refleti sobre os exemplos de eternos solteirões que conheci em minha primeira faculdade, aparentemente felizes, mas o que se pode dizer por dentro? Nada! somente eles sabem a resposta. Não quero isto para meus amigos. Acredito na felicidade a dois, mesmo que com doses de egoísmo, como dizia Cazuza, mas acredito. Quero trabalhar física e espiritualmente para encher o mundo de Andrades, sangue do meu sangue, descendentes dos grandes Wilson e Ademir. Cometi alguns erros, não quero cometer mais, e desses erros o meu maior acerto é meu filho Gabriel Ademir.


Ouvi, durante o trabalho, um senhor cantarolar alegremente o trecho de uma música que diz: Que país é este? Ele cantou quinze vezes, somente esta parte da música, parecia que queria me atingir, me instigar a razões filosóficas e políticas. E conseguiu. Pensei na identidade nacional, em patriotismo, em corrupção, em movimentos estudantis, no capitalismo, na democracia, em muitas outras coisas. Mas, era isso que ele queria realmente de mim? Afinal, meus pensamentos não são diferentes do pensamento de centenas de brasileiros. Aquele senhor e não somente ele, todo o mundo, espera de mim um pensamento diferente dentro do mesmo questionamento (que país é este?). Qual é a chave e qual o objetivo de tal pensamento? Continuar nesta linha de raciocínio me levaria a loucura, melhor definir parâmetros agora. A razão de todo pensamento político é melhorar o modo de vida dos cidadãos das pólis (cidades), bem isto é um inicio. Agora, o que se compreende por cidadão? É todo aquele que detém dinheiro e conseqüentemente poder ou todo aquele que nasce dentro dos domínios de um certo estado e logo se denomina participante dele? A segunda afirmativa parece a mais viável, afinal, somos todos brasileiros, cidadãos. Bem, com estes pensamentos, analiso a situação atual do estado Brasileiro, uma boa parcela da população sofrem por terem condições de vida precárias, logo, meu pensamento político deve se reter a melhorar as condições de vida destes miseráveis cidadãos. Mais uma vez me vejo preso ao pensamento comum dos incomuns...continue, continue. Como mudar a situação destes brasileiros? Através da revolução ou de ações isoladas dentro dos panos do sistema capitalista?


O pensamento Marxista me impede de pensar na revolução, pois não conseguirei mudar o modo de produção a ponto de desestruturar a macroestrutura do sistema a não ser que detenha capital para isto, o que me parece ser estranho. As ações isoladas servem apenas como paliativo para as maiores dores, dando uma sensação de alivio temporário para uma dor ininterrupta, o que me agrada, mas não é a decisão definitiva, no final, os miseráveis morrerão de forma horrível. Uma terceira opção me vem a mente, a de procurar elevar o grau de tensão social no sistema a ponto de que tudo se destrua, e dos sobreviventes desta situação, surja uma nova sociedade, mas logo me lembro de holocaustos provocados por sobreviventes de catástrofes que chegam ao poder, melhor não.



"Eu não me sinto bem em acreditar que o mesmo Deus que nos deu a Razão e a inteligência esqueceu do uso desses dons" Haggard, The Observer.

sábado, 26 de abril de 2008

A "razão perfeita" Parte I


Por: Rafael Ademir Oliveira de Andrade.



O homem tanto se “enche de si” por ser possuidor da razão. Entretanto apenas troca seus instintos primitivos para reagir a estímulos sociais diversos. Para se definir levianamente algo, não é necessariamente preciso que se seja possuidor desta coisa, é somente preciso que tenha se observado o objeto por um determinado tempo, assim como posso descrever movimentos sociais de forma leviana, apenas convivendo, mas só irei descreve-lo de forma exata no momento em que fizer parte dele, pois há, inserido no contexto, um sentimento que não compartilho e a ciência não me permite sentir, apenas observar utilizando-se de experiências de acordo com um método. Assim é a razão, é visualizar o objetivo (função, essência) das coisas de forma clara, se perguntar: Para que faço isso? Por que faço isso? E aí por diante.


Nem todos os homens são perfeitos usuários da razão, perfeitos racionais. Muitos apenas respondem a estímulos simples, como dançar coisas sem sentido, fingir ser intelectual, transar com a mulher mais atraente (simplesmente para satisfazer o ego) e outras coisas mais. Nunca deixamos de ser animais, só que agora vivemos em uma selva de pedra, caçando as outras espécies, mas principalmente nós mesmos, a chamada “civilização” não existe, a humanidade não existe como benevolente característica comum dos seres humanos. Na natureza se diz: lute contra o inimigo! E na civilização se diz: lute contra o inimigo! Mas a questão não é de vida ou morte somente, é por orgulho e acumulo.



Trocou-se a cultura de região da idade média, onde as pessoas se identificavam pelo local ou família que tenha nascido, pela cultura de classe na era industrial, onde as pessoas se identificavam pela classe social a que pertenciam. Enfim, agora nada temos, com o mundo globalizado, a aldeia global, sintetizamos todas as culturas em algo esdrúxulo que gira em torno do capital e suas marcas, o homem virou marca, o homem virou máquina. E nesta “coisificação” (termo de uma amiga) ele transforma a todos que o cercam em “coisas” também para que ele possa consumir sem ter o peso na consciência que foi consumido, assim inicia-se um ciclo semi-infinito que só se encerra no momento anterior a morte do individuo onde ele percebe que sua vida não valeu nada, que no final, é um produto ultrapassado sendo jogado no lixo. São como gado que só percebem que irão morrer quando estão na fila do abate, isto quando percebem.

:

In - Existência


Alone - Edgar Allan Poe.
Da infância que eu não tive
como os outros são, eu não posso ser
como os outros vêem, eu não pude ser
Minhas paixões de uma primavera qualquer
Da mesma fonte eu não pegarei
Ao duelo, eu não pude despertar
Meu coração para este tom de alegria
E tudo que amei, amei sozinho...