terça-feira, 20 de maio de 2008

Uma verdade


Por: Rafael Ademir Oliveira de Andrade.


Ontem eu não estava com meus amigos em uma festa, nem eles, nem mais ninguém. Estamos todos amarrados em uma cadeira, com os olhos vendados, em uma grande sala branca, com lâmpadas que emitem luzes que nos cegariam caso pudéssemos visualiza-las. Passamos o tempo todo lá, tendo sonhos controlados, sonhando que estamos juntos em uma festa, em uma sala de aula, em uma sala de trabalho, tudo não passa de uma ilusão. De tempos em tempos, é nos dada uma opção, única fala que concebemos fora do mundo das ilusões, é nos dada à oportunidade de nos matarmos com uma arma de fogo, o suicídio é a única solução para esta situação. A verdade é que muitos negam este suicídio, e continuam a viver no mundo de ilusões, doces e amargos sonhos, que não podem controlar, mas se pode pensar que vive, é um doce sonho de dor. Outra verdade é que nosso corpo, mesmo sem envelhecer, desiste de continuar assim, simplesmente morre, deixa de respirar.


Existe uma maneira de se livrar em vida desta situação, entretanto, todos que se prontificam a trilhar este caminho sofrem terríveis rituais de tortura por parte dos controladores. O primeiro é um prego enferrujado cravado no coração, a dor é enorme, não é mais possível amar os que estão presos, só resta o sexo, a violação mental de uma vagina, a sujeira negra do mar vermelho, a solidão a dois, é possível encontrar um parceiro que sofra de igual dor, aí, poderão trilhar juntos este caminho, sabendo que é uma ilusão, mas que juntos poderão encontrar a verdade, a o amor, o amor. A segunda tortura é arrancar as unhas dos pés e das mãos, para que andar, tocar as coisas e muitas outras coisas seja uma verdadeira dor, estar no mundo dos sonhos é uma dor, nesta hora todos pedem a arma. A terceira tortura consiste em socar os olhos dos torturados, para que ler e olhar as coisas belas da vida, também lhe causem dor, ler, seu principal instrumento de libertação, se torna seu principal algoz e por fim, o quarto ritual, onde é dada uma centena de leves marretadas na cabeça do pretenso liberto, que sofre de dores de cabeça finitas e perde a capacidade de se amar, restando-lhe somente amar ao próximo para se manter sonhando.


Vale mesmo a pena fazer isto? Morrer em sonho, morrer em vida? Sim. Devo falar o porque. O caminho para a libertação é um, igual para todos. Mostramos nossa vontade de se libertar e agüentamos sozinhos os sofrimentos (é deveras raro achar outro que tente trilhar junto conosco, mas é recompensaste ter alguém que sofra dores semelhantes ao nosso lado) e usamos de um artifício que pode deixar registrado até onde chegamos em nossa caminhada, para que os próximos possam seguir de onde paramos. O registro se chama estudo, o caminho se chama filosofia, aonde queremos chegar é na ciência.


Um dia, pretenso sonhador eu sou, as pessoas se libertarão e assassinarão com grande ódio os controladores desta grande sala. Mas o mesmo caminho que me faz chegar até aqui me faz enveredar por lugares desconhecidos, longe de uma verdade absoluta. Talvez, pensar que estamos em uma ilusão me aparente ser melhor do que acreditar que isto é a verdade, uma verdade imbecil é inútil, por isto, crio outra verdade, esta sim, mesmo que cause agonia a vós, é para mim uma chance. O lugar onde queremos chegar, é como um deserto, não sabemos onde está a areia que te sugará, provavelmente no meio das pernas de outrem. E para não dizer que sou totalmente descrente das coisas, afirmo que existe a irmandade, um amor que nos é permitido escolher, dentro da família, temos irmãos e temos parentes, ser irmão, é ser mais, e não digo isto apenas por ligação sanguínea.


Não existe ser mais burro do que o que rende sua vida a acumular capital. É o pior dos animais, é um verdadeiro representante da humanidade.


"O inferno é o outro" Sartre